E acha normal carona em avião agenciado por bicheiro
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, procurou na terça-feira alguns jornalistas da Assessoria de Imprensa do STF para dar explicações sobre sua viagem à Berlim junto com Demóstenes Torres, hoje sabidamente um integrante da quadrilha do contraventor Carlinhos Cachoeira. Trechos dos documentos da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, mostram Cachoeira e o ex-vereador de Goiânia, Wladimir Garcez, arranjando, a pedido de Demóstenes, um avião em 23 de abril de 2011 para transportar o senador e um homem chamado “Gilmar” que viajava com ele, vindos de Berlim. Ao lado da transcrição da conversa onde era mencionado o “Gilmar”, a PF interroga: “Mendes?”
Indagado pelos repórteres sobre
as notícias de que ele teria viajado num jato providenciado por Cachoeira e
seus cúmplices, Gilmar ficou muito nervoso e sacou vários papéis que já
estavam em seus bolsos para tentar provar que sua viagem a Berlim tinha sido
“oficial”. A certa altura ele se traiu e deixou escapar: “Vamos dizer que o
Demóstenes me oferecesse uma carona num avião, se ele tivesse. Teria algo de
anormal?”. A nós resta indagar: como assim excelência? Um bandido, chefe de
quadrilha, providencia um avião para duas autoridades da República e o digno
“magistrado” acha isso normal? Com tudo o que se sabe hoje - e Gilmar Mendes
também sabe - sobre os crimes cometidos por Cachoeira/Demóstenes e sua
quadrilha, como um membro do STF pode achar que não há problema em aceitar
uma carona num avião arranjado por eles?
A pergunta, inclusive, não
tinha sido se a viagem era oficial ou não. A viagem oficial existiu e foi
aquela feita até Granada, na Espanha, onde Gilmar iria participar de um ato
em homenagem a uma personalidade européia, e a volta de lá para o Brasil.
Mas, a ida para Praga para se encontrar com Demóstenes e a viagem dos dois
juntos, de trem, para Berlim, bem como a volta de Berlim para o Brasil, não
eram oficiais. Permanece, portanto, até hoje um mistério sem explicação.
Qual o motivo do encontro dos dois em Praga, na República Tcheca. E também
por que a viagem de trem para Berlim? Qual o motivo deste encontro? Essas
perguntas ainda não foram respondidas por Gilmar em suas seguidas
entrevistas. Ele agrediu o ex-presidente Lula, o ex-presidente do STF,
Nelson Jobim, e outros, mas não explicou nada. O Brasil quer saber mais
detalhes sobre este misterioso encontro em Praga. É preciso que ele pare de
ofender os outros e se explique para o país.
E, além do mais, convenhamos,
com essa declaração de “sua excelência”, dizendo que não vê problema nenhum
em usar um avião arranjado por Cachoeira, não há mais muita relevância em
saber se a sua viagem de São Paulo à Brasília foi feita ou não no avião da
quadrilha. Até porque Gilmar confessa que já fez outras duas viagens de
avião à Goiânia, arranjadas por Demóstenes. E, que se saiba, Demóstenes não
tem avião. Nessas viagens, Gilmar nem “sabe” quem foi que “forneceu” os
aviões. Ele apenas pegou carona. E indaga aos repórteres se, ao pegar carona
no avião arranjado por Demóstenes, isso significaria que ele estaria se
associando aos seus “malfeitos?”. Ora. Com o que se sabe hoje sobre o
gangsterismo de Cachoeira e Demóstenes, é evidente que sim. Mas Gilmar acha
natural andar em avião de bandido e com bandidos.
Esse nervosismo todo e os
ataques ao ex-presidente Lula e a Nelson Jobim mostram que Gilmar Mendes
está muito preocupado com as revelações que vinham sendo feitas sobre a sua
viagem à Alemanha. E mais ainda com as que poderão ainda ser feitas pela
Polícia Federal. Afinal, sabe-se que faltam milhares de gravações ainda não
estudadas pela PF e nem pela CPMI em curso.
Ele saiu acusando o
ex-presidente da República de estar mal informado e de estar sendo
“abastecido por bandidos e gângsteres”. Mas, tirando a cena, não parece ser
por acaso que Gilmar vem falando tanto em bandidos e gângsteres. Quando era
presidente do STF, ele se cercou do agente Jairo Martins para assessorá-lo
informalmente no órgão. Jairo Martins era, então, e é até hoje, um bandido
que ocupa a posição de braço direito do mafioso Carlos Cachoeira. Atualmente
o “agente” contratado por Gilmar encontra-se preso junto com seu chefe,
acusados, entre outras coisas, de formação de quadrilha. Esse tipo de
gângster trabalhou para Gilmar Mendes.
Coincidentemente foi nessa
época que surgiu a história do grampo sem áudio - que a desmoralizada
revista Veja denunciou - que teria captado uma conversa entre Demóstenes e
Gilmar Mendes. Essa farsa do grampo, que acabou derrubando o chefe da
Agência Brasileira de Inteligência (Abin), delegado Paulo Lacerda, nunca foi
esclarecida. Investigação da PF e da Abin concluíram pela inexistência do
tal grampo. E os dois (Gilmar e Demóstenes) tentaram na época desestabilizar
o governo Lula por conta dessa história ridícula. Depois, desmoralizada a
farsa do grampo, Gilmar se saiu com essa: “Se a história não era verdadeira,
era extremamente verossímil diante de todo aquele quadro” (Folha/UOL
24/03/2009).
Gilmar tem também uma enteada
contratada - a seu pedido - no gabinete de quadrilheiro Demóstenes Torres.
E, como todos se lembram, foi o próprio Gilmar Mendes que, em menos de 24
horas, deu dois habeas corpus para soltar o banqueiro mafioso, Daniel
Dantas, preso na Operação Satiagraha da Polícia Federal.
SÉRGIO CRUZ
www.horadopovo.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário