sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Ibope, Globo, Folha e a metodologia do golpismo

Desde as eleições presidenciais de 1989, os “magos” de institutos de pesquisa são tratados pela grande imprensa como grãos-senhores da opinião pública, cientistas políticos dotados do preceito positivista da infalibilidade. Era de se esperar que os especialistas adulados soubessem que cair no canto da sereia midiática pode conduzir suas naus à boca do Adamastor ou espalhar-se no invisível Cabo das Tormentas.

A entrevista concedida pelo presidente do Ibope Carlos Augusto Montenegro à revista Veja (edição 2127, de 26/8/2009) bate de frente com o rochedo da verdade, lançando uma nuvem de suspeita sobre os rigores científicos de futuras pesquisas, seus modelos matemáticos e estatísticos.

Ao afirmar que “sem o surgimento de novas lideranças no PT e com a derrocada de seus principais quadros, o presidente se empenhou em criar um candidato, que é a Dilma Rousseff. Mas isso ocorreu de maneira muito artificial. Ela nunca disputou uma eleição, não tem carisma, jogo de cintura nem simpatia”, Montenegro incorreu em erro primário. Ou o narcisismo excedeu os limites toleráveis, ou a má-fé já não se preocupa em vestir disfarces.

Um “pesquiseiro” pode ter uma expectativa a priori sobre os resultados (ou ninguém testaria hipóteses) e expô-la ao cliente – confidencialmente. Até deve, se achar que não é recomendável gastar tempo, dinheiro e esforço com pesquisa redundante. Mas não é disso que tratamos. É de coisa bem distinta. É do que diz o presidente de uma instituição com conhecidos vínculos com corporações midiáticas a uma revista que não esconde o protofascismo de sua linha editorial.


Dados, só com sondagem realizada
Ao emitir juízo de valor sobre a ministra Dilma que, apesar das evidências, ainda não confirmou sua pré-candidatura, o analista incorreu em duplo erro: ético e metodológico. Quando diz que Dilma não dispõe de carisma, simpatia ou jogo de cintura, Montenegro parece ter se esquecido que sua empresa vai ser solicitada a fazer pesquisa de opinião sobre o objeto dos comentários. Suas afirmações podem criar uma pré-percepção de predisposição. O que, convenhamos, é um desastre para a credibilidade do grupo que preside.

Em outro trecho, quando perguntado pelo jornalista Alexandre Oltramari sobre as possibilidades das candidaturas aventadas até o momento, o economista, habituado a realizar pesquisas em diversos setores, vaticina: “Faltando um ano para as eleições, o governador de São Paulo, José Serra, lidera as pesquisas. Ele tem cerca de 40% das intenções de voto. Em 1998, também faltando um ano para a eleição, o líder de então, Fernando Henrique Cardoso, ganhou. Em 2002, também um ano antes, Lula liderava – e venceu. O mesmo aconteceu em 2006.”Lorota. Em 1994, pesquisa sobre intenção de voto do Datafolha dava 41% para Lula contra 19% para FHC. O tucano ganhou o pleito no primeiro turno. Em 1998 e 2006 tivemos reeleições e os favoritos eram os candidatos a elas, respectivamente FHC forte (cf. “estelionato cambial”) e Lula, se não diretamente enfraquecido, pelo menos alvejado pelo “mensalão”. Coisa bem diferente de agora.Montenegro deveria saber que só tem que apresentar dados em cima de um parecer quantitativo que foi extraído de sondagem efetivamente realizada. Do contrário, como faz nessa entrevista, parece querer induzir futura pesquisa ou dar uma opinião pessoal, já dizendo, mesmo antes de fazê-la, qual vai ser o resultado. Conspiracionismos à parte, algo soou estranho nas “amarelinhas” da revista dos Civita.
Uma notinha indispensável

Nossa grande imprensa progride. Já havia abandonado a verdade factual para fazer campanha. Agora, faz pouco da verdade textual também.

A Folha de S.Paulo (“Apoio de petistas a Sarney é insustentável, diz Marina”, 23/08, página A4) falseia (deliberadamente?) as palavras da senadora Marina Silva.Diz o texto de Marta Salomon: “[Marina Silva] lançou mão de personagens da Bíblia para comparar a candidatura Dilma Rousseff e uma candidatura pelo PV à luta entre o gigante Golias e Davi.” Diz a senadora: “(...) não imagino que a candidatura do PT é Golias e nem tenho a pretensão de ser o Davi (...).” Portanto, e ao contrário do afirmado no texto redacional, a senadora “lança mão de personagens da Bíblia” para expor como descabida tal comparação.

O Globo já foi obrigado, no sábado [22/8], a se retratar pela manchete falsa da véspera, denunciada pela senadora no plenário do Senado, com transmissão ao vivo pela emissora da Casa. A Folha, que tem por política não se retratar de falsidades, vai esperar também ser – merecidamente – denunciada de público?

A profissão de fé jornalística nunca esteve tão em alta.

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador da Hora do Povo e do Observatório da Imprensa

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Major Olímpio alerta Marina que PV barganha princípios com José Serra

O deputado estadual Major Olimpio, que acabou de deixar o PV, alertou a ex-ministra do Meio Ambiente e senadora do PT, Marina Silva, que seu antigo partido tem “uma obediência cega ao Serra”.
“Marina, pense muito bem. Você tem uma história de vida… Os princípios do PV são fantásticos no papel, na conversa. Mas não são reais. Você não merece esse engodo”, disse ao ser indagado sobre a ida para o PV, cogitada pela senadora.
Segundo Olímpio, “logo no começo do mandato eu entendi. Meus sete colegas de bancada votaram em favor de vetos de Serra a projetos ambientais. Um deles era para a despoluição dos rios. Olha, eles se esqueceram até dos princípios ambientais”. O deputado entrou com um processo contra o partido para manter o cargo que seus eleitores, majoritariamente policiais, lhes deram. No processo, argumentou que foi censurado pelo partido em função das denúncias que fez ao governo Serra.
Entre elas a de que os helicópteros da Polícia Militar de São Paulo “viraram táxi-aéreo de “aspones” e secretários do governador”. “Para você ter uma idéia, houve um sábado [em 2007] que o Goldman [Alberto Goldman, vice-governador de São Paulo] pegou seus chinelinhos e seu cachorro e chamou um ‘táxi-aéreo do governo’, que era, na realidade, um helicóptero de resgates da PM, para ir passear em Campos do Jordão”.
fonte: HP

sábado, 1 de agosto de 2009

Considerações sobre o trabalho com leitura nas diferentes disciplinas

Em todas as áreas é importante o professor realizar a leitura de textos de diferentes gêneros para os alunos. Podem ser textos expositivos sobre os conteúdos abordados ou textos de outros gêneros relacionados indiretamente aos conteúdos ou mesmo outros textos instigantes que o professor julgue interessante compartilhar com a turma.
Os gêneros expositivos são aqueles que pretendem fazer compreender um assunto, apresentar um tema novo, expor um conceito ou conclusão – neles o autor compartilha informações sobre um assunto que supõe desconhecido ou pouco familiar aos leitores, com as explicações necessárias para favorecer o entendimento do que é tratado. Os textos que nos habituamos a chamar de textos teóricos e a maioria dos que estão nos livros didáticos das diferentes disciplinas, e também nos paradidáticos, são textos predominantemente expositivos. Esta definição que você está lendo é um texto expositivo. Outros exemplos são: verbete de enciclopédia e de dicionário, resumo de textos explicativos, relato de experimento, resenha etc.
Em geral, nas escolas não é feito um trabalho específico com os procedimentos necessários para ler/estudar e escrever esses textos, que é o poderia ensinar os alunos a lidarem adequadamente com eles. Por essa razão, na versão preliminar das Orientações Curriculares elaboradas em 2009, tanto do Ensino Fundamental como do Ensino Médio, foram incluídas as propostas que estão transcritas nos quatro blocos a seguir.

1. Atividades de leitura de texto didático e outros textos expositivos:
- clarificação do propósito do estudo;
- levantamento dos conhecimentos prévios sobre o tema a partir da leitura do título/subtítulos;
- observação dos recursos utilizados para salientar ideias (negrito, itálico, disposição espacial, legendas de ilustrações, tabelas, quadros, notas de rodapé etc.);
- busca e identificação das ideias mais importantes, parágrafo a parágrafo;
- utilização de procedimentos de suporte para a síntese (sublinhar, tomar notas, levantar palavras-chave sob orientação do professor);
- verificação da própria compreensão e esclarecimento de dúvidas (relendo, perguntando, trocando ideias, buscando o dicionário etc.);
- organização da síntese (resumo ou, sob orientação do professor, esquema).
2. Atividades coordenadas pelo professor de análise de textos-síntese (resumos, esquemas), para discutir sua organização lógica, estrutura, clareza e, se necessário, complementá-los, reordená-los, corrigir informações de acordo com os textos-fonte.
3. Atividades sequenciadas de pesquisa, desenvolvidas no âmbito ou não de projetos:
- levantamento de conhecimentos prévios sobre o tema-base;
- levantamento, hierarquização e ordenação de questões a serem respondidas (roteiro prévio);
- planejamento dos passos do trabalho;
- estabelecimento dos grupos e decisões sobre os papéis a serem desempenhados por seus integrantes;
- seleção de fontes adequadas à pesquisa e consulta a índices e outros facilitadores de localização da informação;
- extração das informações pertinentes (respostas às questões iniciais e outras informações);
- produção de texto expositivo em que se articulem as informações selecionadas;
- compartilhamento e análise dos trabalhos.
4. Rodas de avaliação processual e final para troca de opiniões sobre:
- o estudo em realização/realizado;
- as informações a obter/obtidas;
- o interesse provocado;
- as possibilidades de desdobramento.