O sr. Samuel Pessoa, neoliberal que escreveu o
programa econômico de Serra em alguma das eleições que este perdeu, descobriu
uma forma genial de aumentar o investimento público: cortar as pensões por
morte. Como todo neoliberal, Pessoa é dono de uma consultoria. Esperemos que
ele não esteja aconselhando seus clientes a matarem as viúvas e os órfãos
menores de idade (ou inválidos) – pois são estes que recebem as pensões por
morte.
O caso é tão curioso e tão relevante para os
destinos da Pátria, que temos de sumariá-lo. O problema, diz o sujeito, é que
ninguém quer reduzir os salários. Assim, ele foi obrigado a encontrar
alternativas. Naturalmente, não pensou em tocar no superávit primário e nos
juros, que comem R$ 230 bilhões, em média, por ano, do Orçamento público. Não,
leitor, o Pessoa não incorreria em tal falta de disciplina fiscal. O dinheiro
dado aos bancos estrangeiros, como todo mundo sabe, é o que garante que o país
não consuma o Orçamento em cachaça ou equivalentes – por exemplo, creches,
moradias, metrôs, unidades de Saúde, escolas ou universidades, para não falar
na cachaça propriamente dita, isto é, nos aumentos de salários.
Assim, felizmente, ele achou as viúvas e os órfãos,
esses parasitas. Logo, se eles também morrerem (de fome), vai ser uma beleza
para o investimento público. Não é lógico? Vamos transcrever, para que ninguém
pense que estamos inventando:
“Em alguns casos (…), como as pensões por morte,
o despropósito dos benefícios é tão evidente que talvez seja menos difícil
enfrentar a luta para reduzi-los [do que reduzir os salários]. Aliás,
isso se aplica também ao setor privado. Na verdade, um dos exemplos mais
contundentes de por que o consumo do governo é tão elevado no Brasil é
justamente o programa de pensão por morte do funcionalismo. Mas o mesmo também
pode ser dito do gasto do setor público com as pensões por morte do setor
privado. Nesse caso, não se trata de consumo do governo, mas de transferências.
De qualquer forma, tudo faz parte da despesa do Estado. O Brasil gasta com
pensão por morte, no setor público e no privado, cerca de 3% do PIB. (…) Temos,
consequentemente, excesso de gasto nessa rubrica (…). Se, portanto, gastássemos
o normal (…) na rubrica pensão por morte, haveria recursos para dobrar o
investimento público”.
Jonathan Swift sugeriu, em 1729, que o problema das
crianças que passavam fome na Irlanda fosse resolvido por torná-las alimento,
pois, “garantiu-me um americano muito sábio, conhecido meu em Londres, que
uma criança jovem e saudável, bem alimentada, com um ano de idade, é o mais
delicioso alimento, mais nutricional e completo – seja estufada, grelhada,
assada ou cozida. E não tenho qualquer dúvida de que poderá igualmente ser servida
como fricassé ou num “ragout””.
Menos produtivo, o neoliberal serrista sugere que
elas morram (e mais as viúvas) para aumentar o investimento público –
provavelmente, o investimento público nos cemitérios.
Por sinal, dizer que o gasto com pensão por morte é
3% do PIB, apenas omite que o PIB não cresce devido, precisamente, aos
matadores de velhinhas e crianças da área econômica. Quando o PIB não cresce, é
evidente que as despesas parecem altas quando traduzidas em percentagem do PIB.
Mas o problema não está nas despesas, e, sim, na falta de crescimento. Nada
deixa tão claro quem são esses vigaristas, quanto o fato de que as pensões por
mortes são apenas a consequência das pessoas morrerem. O neoliberal não sugeriu
uma forma de tornar as pessoas imortais (entrar na Academia Brasileira de
Letras, já dizia Grieco, é virar candidato a cadáver...); no entanto, acha um
absurdo as pensões por morte.
O leitor pode pensar: será que essa besta não sabe
que os trabalhadores pagam para que os familiares daqueles que morrem recebam
pensão - aliás, em geral pequena?
Claro que ele sabe disso, leitor. Mas ser ladrão é
a verdadeira natureza do neoliberal. O que ele arrumou, com esse genocídio de
viúvas e órfãos, foi uma forma de roubar os trabalhadores – e enfiar mais dinheiro
no superávit primário, ou seja, nos juros. Nem no dia do juízo final vai
aparecer algum neoliberal preocupado, realmente, com o investimento...
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