Lula: foi o meu sucesso que irritou a elite da mídia
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva participou, na segunda-feira (13), do debate de lançamento do livro "10
anos de governos pós-neoliberais no Brasil – Lula e Dilma". No evento, realizado
no Centro Cultural São Paulo, Lula lembrou dos êxitos dos seus dois mandatos e
falou sobre as críticas que recebeu desde o início de seu governo. O debate foi
coordenado pelo sociólogo Emir Sader.
"Eu tinha consciência que meu
problema com parte da elite política desse país e da elite da imprensa
brasileira era meu sucesso. Se eu fracassasse, eles falariam bem de mim:
‘coitadinho do operário. Coitadinho chegou lá, mas não tem culpa, não tava
preparado, não fez nossa escola’", disse.
O ex-presidente destacou que o
maior legado que deixou em sua presidência não foi nenhum dos programas sociais,
mas sim ter mostrado que é possível "governar de forma republicana sem aqueles
que me odiavam".
"O palácio, que até então era para
reis e rainhas, banqueiros e grandes empresários, continuou sendo. Mas com uma
diferença: é que lá entravam também os índios, os hansenianos, os moradores de
rua, os favelados, fazendo com que, pela primeira vez, aquela fosse uma casa de
todos e não apenas de uma parcela da população brasileira", ressaltou.
O economista e atual presidente da
Fundação Perseu Abramo, Marcio Pochmann, lembrou de mudanças estruturais pelas
quais o Brasil passou. Ele ressaltou o que chamou de "coragem e ousadia" do
partido para inverter prioridades e "começar distribuindo", em vez de "primeiro
crescer para depois distribuir".
A professora Marilena Chauí falou
da "revolução social" por que passou o Brasil, mas refutou a existência de uma
"nova classe média" no país. Ela sublinhou que o que houve foi a expansão da
classe trabalhadora, que "conquistou seus direitos".
"Não há no Brasil uma nova classe
média. Existe no Brasil uma nova classe trabalhadora, que é resultado das
políticas econômicas contra o neoliberalismo. Essa nova classe trabalhadora é
complexa e precisa ser estudada. Ela é o sujeito político da próxima década. A
classe não mudou de lugar: ela apenas conquistou seus direitos", frisou. A
professora afirmou que jamais poderia ser utilizado o termo "nova classe média"
para definir a nova classe trabalhadora porque classe média é "arrogante,
conservadora, um atraso de vida". Lula falou logo depois de Marilena e brincou:
"Depois de tantos anos de luta que eu cheguei a ser considerado classe média
essa mulher avacalha a classe média".
O livro, lançado pela editora Boitempo, é uma
coletânea de artigos organizada por Emir Sader, além de trazer uma entrevista
inédita com o ex-presidente Lula.
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