sexta-feira, 21 de maio de 2010

Brasil, o Diap e o zero à esquerda

Achei muito interessante este artigo e resolvi transcrevê-lo no nosso blog. O crédito esta no final dele. Leiam.


Numa das definições mais precisas para o “zero” que logo vamos abordar, seja de Afif, Alckmin ou Serra, o “Aurélio” fala de “pessoa ou coisa sem valor ou préstimo”, cuja nulidade pode ainda ser descrita como “zero à esquerda”.

Passados cem anos do nascimento de Aurélio Buarque de Holanda, autor do excelente dicionário, ainda está para ser escrito termo mais exato para o comportamento de parlamentares ou governantes que traem o acordo firmado com seus eleitores. Ainda mais, quando envolvem aspectos essenciais para o desenvolvimento e a soberania nacional, como o petróleo e a energia, ou a defesa dos direitos da classe trabalhadora, expressos na Constituição Cidadã de 1988.

Infelizmente, tal “traição” está longe de ser um paradoxo como foi a descoberta do zero, que quantificava a representação do nada, do inexistente. Ela somente revela, conforme o nosso dicionário de referência, “crime de quem, perfidamente entrega, denúncia ou vende alguém ou alguma coisa ao inimigo”.

Ao ser questionado recentemente por um programa de TV sobre a nota “zero” que recebeu do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), quando era deputado-constituinte, no final dos anos 80, Guilherme Afif Domingos, atualmente candidato a vice-governador na chapa de Geraldo Alckmin, foi taxativo: “O Diap é um órgão fascista”.

A histeria contra quem congrega e presta serviços para mais de 900 entidades sindicais de trabalhadores, como centrais, confederações, sindicatos e associações, faz sentido. Em vez de se calar diante do poder financeiro, como a imprensa venal, o Diap informou que na Constituinte, Afif “certamente contrariou seu eleitorado. Votou contra a proteção da empresa nacional e disse não à nacionalização das reservas minerais. Absteve-se quanto à licença-paternidade, mas não teve dúvidas em apoiar a UDR, votando contra a reforma agrária. Disse não ao direito de voto aos 16 anos e votou contra o tabelamento de juros”. Para completar, “foi a favor da comercialização de sangue humano ao votar contra a emenda que vedava a mercantilização de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de transplantes, pesquisa e tratamento, bem como a coleta, processamento e transfusão de sangue e seus derivados”.

A “resposta” de Afif foi, portanto, digna de um sem argumentos, como recorda o site da Agência Sindical, pois “quem fez a fama – no caso, má fama – de Afif foi um livro de quase 700 páginas, onde, na de número 579, fica-se conhecendo o comportamento do então liberal na votação de matérias de interesse dos trabalhadores, como direito de greve, Piso salarial, jornada de 40 horas, entre outros. Foi assim: zero no primeiro turno da Constituinte; zero no segundo turno; e zero na média final”.

Na página 621 do mesmo livro, os votos de José Serra, “média 3,75”, atual candidato de demos e tucanos à Presidência: 1) contra o monopólio nacional da distribuição do petróleo; 2) contra garantias ao trabalhador de estabilidade no emprego; 3) contra a redução da jornada de trabalho para 40 horas; 4) contra a implantação de Comissão de Fábrica nas indústrias; 5) negou seu voto pelo direito de greve; 6) negou seu voto pelo abono de férias de 1/3 do salário; 7) negou seu voto pelo aviso prévio proporcional; 8) negou seu voto pela estabilidade do dirigente sindical; 9) negou seu voto para garantir 30 dias de aviso prévio; 10) negou seu voto pela garantia do salário mínimo real. Nem é preciso falar sobre a prática de Serra como governador de São Paulo, pois aí seria covardia. O arrocho salarial e a repressão e perseguição ao funcionalismo, a desvalorização e desmantelamento da escola pública, o alastramento dos pedágios o furor privatizante falam por si.

Embora tenha conseguido passar raspando em 1988, nota 7 do Diap, Geraldo Alckmin logo resolveu se desculpar com a direita, passando a abraçar as teses mais reacionárias e entreguistas, das quais tornou-se um ardoroso e fiel defensor. O macacão com o logo das estatais, que vestiu no embate contra Lula em 2002, só estampou o que todos já sabiam. Como ex-presidente do Programa Estadual de Desestatização do governo estadual e posteriormente desgovernador de São Paulo, é um dos grandes responsáveis, junto com Fernando Henrique Cardoso, pela desnacionalização do setor energético paulista, entregue a multinacionais norte-americanas, como a AES-Eletropaulo, ou aos colombianos da ISA, que abocanharam a Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (CTEEP). O resultado a população paulista está sentindo na pele: apagões, aumento de tarifas, precarização e multiplicação dos acidentes.

Moral da história: zero elevado a qualquer número é sempre zero!

*Vice-presidente da CUT-SP

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