sábado, 30 de abril de 2011

Wikileaks confirma 455 prisões de inocentes em Guantânamo

Os Estados Unidos cometeram abusos e torturas contra presos em Guantánamo, confirmaram 759 informes secretos divulgados pelo Wikileaks, que revelaram que 60% dos réus foram encerrados nessa prisão, em território usurpado de Cuba, sem nenhum vínculo com ações ou grupos terroristas, sem acusações concretas, nem chance de julgamento, quanto menos de defesa.

“Os Arquivos de Guantánamo, que o Wikileaks começou a publicar, jogam luz sobre essa monstruosidade da era Bush que a administração Obama decidiu continuar”, afirmou Julian Assange na segunda-feira (25/04).

Milhares de fichas de detidos ou ex-detidos da prisão norte-americana de Guantánamo e outros documentos relacionados, emitidos pela JFT-GTM (Força-Tarefa de Guantánamo) e enviados como memorandos ao US Southern Command (Comando Sul dos Estados Unidos), começaram a ser publicadas no domingo (24/04).

Com data entre 2002 e janeiro de 2009, os registros revelam que o governo dos Estados Unidos usou a prisão de Guantánamo para obter informação dos detidos, independentemente de serem suspeitos ou não e sob torturas. Informam também que muitos dos prisioneiros afegãos e paquistaneses eram inocentes, incluindo motoristas, agricultores e cozinheiros, detidos durante operações de invasão.

O jornal espanhol El País cita o exemplo do diretor de escola sudanês Al Rachid Raheem, do afegão Mahngur Alijan que pedia carona para comprar remédios e do iraniano Bajtiar Bamari, que vivia no Afeganistão na época em que os EUA diziam que procuravam Osama Bin Laden.

“759 relatórios secretos revelam os abusos em Guantánamo. Os documentos mostram que a principal finalidade da prisão foi explorar todas as informações dos presos, apesar da reconhecida inocência de muitos deles. 60% foram levados para a base militar sem nem serem ameaças prováveis”, escreveu o insuspeito jornal espanhol, a maioria das vezes com as opiniões do Pentágono.

O El País cita ainda o caso de um homem de 89 anos preso em Guantánamo. Ele sofria de demência senil, artrite e depressão. Foi detido porque os soldados encontraram um telefone na vila de casas onde ele vivia que continha números de pessoas “suspeitas” de ligação com o Talebã. O idoso não sabia quem era o dono do telefone nem sabia usá-lo. Ficou preso anos até resolverem que não era “perigoso”.

Desde sua criação, em 2002, morreram sete presos no local, segundo dados oficiais. Sua manutenção não encontra amparo em nenhuma convenção internacional e, portanto, não há como fiscalizar o que acontece em seu interior. Os EUA também não permitem nem que a ONU inspecione as condições da base e do tratamento recebido pelos detidos.

Atualmente, há 172 detidos. “Está na hora de reacender o discurso público sobre a prisão de Guantánamo, na esperança que finalmente se possa fazer alguma coisa para trazer justiça para esse estabelecimento”, afirmou Julian Assange, fundador do Wikileaks.

Assange qualificou Guantánamo de “estabelecimento de ‘lavagem’ de pessoas”, comparando com a lavagem de dinheiro, em que bancos e grupos especulativos escondem recursos ilícitos.

Após a divulgação dos documentos pelos jornais, o Departamento de Estado e o Pentágono lamentaram... o vazamento.

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